Jogadora bastante querida pelo grande público do vôlei com diversas experiências internacionais, campeã mundial nas categorias de base da Seleção, adepta do veganismo, reinou por onde passou e para o bem do voleibol renunciou a sua aposentadoria e irá representar a equipe do Curitibano nos torneios nacionais.
Hoje a nossa entrevistada é a atleta Ana Paula Lopes Ferreira, conhecida como FOFINHA.
Em primeiro lugar gostaria de agradecer a gentileza de nos ceder essa entrevista em um momento que nossa equipe considera de muita importância para a sua vida profissional: Um momento de retomada.
FSV: 1. Fofinha, quando você começou a jogar voleibol e quais foram as suas influências?
F: Comecei a jogar vôlei em 1992 e na época morava em Porto Alegre. Iniciei no clube SOGIPA. As pessoas que me influenciaram para ingressar no esporte foram meus pais, que sempre praticaram algum esporte. Antes mesmo de jogar vôlei, desde os 7 anos de idade jogava handebol por influência do meu irmão. Minha maior influência veio da minha família.
FSV: 2. Como foi receber a notícia de que participaria de um time profissional pela primeira vez?
F: Eu recebi a proposta de ir para São Paulo logo depois que peguei a seleção infanto juvenil, na época era o BCN Guarujá que estava formando categoria de base e chamou as meninas da seleção que não eram de SP junto com muitas meninas do time do São Paulo que havia encerrado. No início deu um enorme frio na barriga, pois sairia de perto dos meus pais e estava naquele momento decidindo o que iria fazer com meu futuro. Fiquei muito feliz e acredito que o apoio dos meus pais foi fundamental. Minha transição para a equipe principal foi natural, iniciei participando dos treinos, depois ficando entre as 12 e enfim sendo titular.
FSV: 3. A seleção Brasileira se base em que você esteve presente foi campeã mundial infanto-juvenil e vice campeã mundial juvenil. Como foi ser campeã mundial?
F: Ser campeã mundial infanto foi a primeira vez que entendi que dedicação e muito, muito treino dão resultado. Fomos a primeira seleção a ser campeã mundial da categoria, acho que abrimos a porteira para as próximas que ganharam várias vezes depois (rs). Foi também minha primeira seleção com meninas da minha idade, até então tinha participado da seleção com meninas mais velhas que eu e junto com as meninas do meu ano tínhamos mais responsabilidade. O campeonato juvenil foi bom para percebermos que mantínhamos o nível e mais uma vez jogar com a responsabilidade de ter sido campeã da categoria e enfrentarmos as mesmas seleções. Acredito que as seleções de base contribuíram muito para minha evolução técnica e me fizeram amadurecer mais rápido.
FSV: 4. Após a parada de Ana Moser na equipe do BCN você teve sua primeira oportunidade de se firmar como titular em um time grande sob o comando do Sérgio Negrão. Você sentiu a pressão de substituir Ana Moser que até hoje é um ícone do voleibol brasileiro e mundial?
F: Antes de eu entrar no time o Sergio Negrão conversou comigo e perguntou se eu estava pronta para jogar e juntamente com a comissão recebi bastante suporte. Na época as outras jogadoras também me ajudaram muito, eram todas mais velhas. Não senti pressão, sentia frio na barriga, o que sinto até hoje e é mais que necessário.
FSV: 5. O título do Salonpas Cup em 2006 foi determinante para a sua vida profissional?
F: O título do Salonpas foi onde chamei atenção do time da Hisamitsu, que acabei indo jogar no ano seguinte e dar início a minha carreira internacional. A temporada de 2006 foi uma das minhas melhores temporadas e o Salonpas foi importante pois foi a primeira competição da temporada onde pude me testar diante de outros times.
FSV: 6. Você teve experiências fora do país em vários outros continentes. A valorização lá fora é muito maior que aqui dentro? Por quê?
F: Não acho que a valorização é maior... fiz uma excelente temporada no meu primeiro ano fora, o que acabou me abrindo portas e me valorizando no Japão. Depois fui para a Rússia e também fui muito bem em meu primeiro ano lá, o que acabou também me valorizando. Fiquei no exterior porque me adaptei bem aos lugares por onde passei e recebia boas propostas. Não voltei porque é difícil bater o mesmo valor de propostas em euro, ou dólar, com contratos aqui no Brasil.
FSV: 7. Falando em exterior, atuaria novamente em algum país sem ser o Brasil? Ficou algum país de fora da sua “lista de desejos” onde desejava trabalhar?
F: Acredito que joguei em todos os lugares que tinha muita vontade. Na época queria participar das ligas fortes, Russia, Itália, Japão, Turquia, e passei por todas elas.
FSV: 8. A Fofinha chegou a anunciar a aposentadoria e parou por um tempo. Por que optou pela aposentadoria na época? Qual o fator determinante para retornar às quadras?
F: Decidi parar porque já fazia um tempo que tinha vontade de começar a estudar, ter mais tempo para minha família e estabilidade. Cansei um pouco das mudanças e vida cigana.
Quando iniciei a jogar no exterior tinha em minha mente que isso seria por um período para crescer profissionalmente e adquirir estabilidade financeira. Sempre soube que teria um prazo e foi exatamente o que aconteceu, era hora de parar e ter ainda bastante fôlego e disposição para iniciar a nova carreira. O que me fez voltar a jogar agora foram as meninas que estão no time, poder jogar com algumas que não tive a oportunidade de jogar enquanto jogávamos.
Ainda o período coincide com as minhas férias da faculdade e o fato de eu ter continuado trabalhando fisicamente e estar forte o suficiente para poder treinar e tudo mais, e claro o projeto, a chance de ter um time de Curitiba na Superliga, eu sou do sul e acho muito importante ter times fortes fora da região sudeste. Foi a combinação de um série de fatores.
FSV: 9. Como surgiu o convite para representar o Curitibano, ainda que aposentada? Quais as expectativas?
F: A Fernandinha já tinha falado comigo assim que ela assinou. Eu no início não tinha como aceitar, pois tinham coisas que estavam pendentes em SP para eu resolver. Depois ela falou comigo novamente, juntamente com a Gisele Miro que é a gestora do projeto, me explicando as datas e foi quando eu decidi que iria. A possibilidade de jogar com a Fernandinha e podermos trabalhar em prol da causa vegana, dando exemplo de esporte de alta performance com alimentação a base de vegetais, também foi um das coisas que me influenciaram bastante.
FSV: 10. Hoje a Fofinha, assim como a jogadora Fernandinha se dedica ao estilo de vida vegano. Conte-nos sobre a sua experiência com o veganismo.
F: Eu mudei meu estilo de vida em 2014 que foi quando tomei consciência de tudo aquilo que já vinha lendo. Sempre gostei muito de animais e a mudança foi inevitável. Eu sempre tive saúde, disposição e a mudança não me tirou isso. Levei um tempo para adaptar a alimentação, entender a quantidade que deveria ingerir, que deve ser em maior quantidade.
Nesse tempo que sou vegana já escutei de tudo, mas meu foco é em mostrar para as pessoas que ser vegetariano, vegano não interfere na performance, não altera força e nem recuperação.
FSV: 11. Há quem não acredite que o potencial do atleta permaneça o mesmo sem a ingestão de carnes, etc. O que dizer sobre isso?
F: O que acontece é que as pessoas não se informam, não procuram profissionais especializados no assunto. É preciso ter uma alimentação balanceada, o segredo está na alimentação. A proteína não é encontrada somente na carne, existem inúmeras fontes de proteína e o importante é ingerir o necessário para nutrir nosso organismo.
Esse receio é devido a falta de informação e possivelmente a falta de contato com pessoas que são vegetarianas e continuam a ter um desempenho excelente. Para isso que nós estamos aqui!
FSV: 12. Algumas pessoas se mostram contra esse estilo de vida, apesar de não ser recente. A Fofinha acredita ser falta de informação?
F: Falta de informação sim, de orientação, não querer sair da zona de conforto...muitos acreditam que é muito difícil ser vegano,mas hoje em dia esse mercado cresceu muito e temos as muitas opções, doces, salgados, cosméticos, etc...aos poucos as pessoas estão abrindo os olhos, principalmente por causa da saúde! Não gosto de dizer que existem pessoas contra esse estilo de vida e sim apenas pessoas desinformadas.
FSV: 13. Você foi o pedido de muitos leitores do nosso blog. Poderia mandar um recado para seus fãs e para quem nos acompanha?
Fofinha o blog agradece a sua presença e a disponibilidade pela entrevista. Desejamos ainda muito sucesso na disputa da Taça Ouro e que você não retorne para a aposentadoria, pois faz falta em quadra.
E aí leitores, possuem alguma sugestão? Encaminhe para sobrevoleibol@gmail.com.